O nome Fátima ecoa com profunda reverência tanto no mundo islâmico como em Portugal. No entanto, apesar de partilharem o mesmo nome, Fátima bint Muhammad (R.A.), filha do Profeta Muhammad (S.A.W), e a figura católica conhecida como “Nossa Senhora de Fátima” representam duas realidades distintas, separadas por séculos e contextos religiosos diferentes.
FÁTIMA (R.A.): A FILHA DO PROFETA MUHAMMAD (S.A.W.)
Fátima bint Muhammad (R.A.) nasceu em Meca, no século VII, e foi a mais nova filha do Profeta Muhammad (S.A.W.) e de Khadija (R.A.). Ela foi também esposa de Ali ibn Abi Talib (R.A.) e mãe de Hasan (R.A.) e Husayn (R.A.), duas figuras centrais na história islâmica.
“NOSSA SENHORA DE FÁTIMA”: UMA HISTÓRIA PORTUGUESA
Séculos mais tarde, em 1917, em Fátima, Portugal, três crianças afirmaram ter visto aparições de Maria (Maryam A.S.), mãe do Profeta Isa (Jesus (A.S)). Essas visões tornaram-se um símbolo profundo da fé católica, e a vila passou a ser conhecida mundialmente como Fátima, associada à devoção mariana.
Mas o nome “Fátima” do local não surgiu das aparições, nem tem origem cristã. Ele vem do período em que a Península Ibérica esteve sob domínio muçulmano. Segundo registos históricos, a região recebeu o nome em honra de uma mulher muçulmana chamada Fátima, que teria vivido ali após a Reconquista. Assim, o nome sobreviveu ao tempo, mantendo viva uma herança linguística e cultural islâmica em solo português.
FÁTIMA E OUREANA: O AMOR QUE UNIU DOIS MUNDOS
Conta a história que, nos tempos da Reconquista, viveu em terras do Al-Gharb (Algarve) uma princesa muçulmana de rara beleza chamada Fátima, filha de um poderoso emir. Guardada nas torres e prometida ao seu primo Abu, o destino quis, porém, que o seu coração se rendesse a um inimigo: o cavaleiro cristão Gonçalo Hermingues, conhecido como "Traga-Mouros".
Durante uma festa mourisca, Gonçalo ousou raptar a princesa. A guerra que se seguiu levou à morte de Abu, e o cavaleiro levou Fátima para junto dos cristãos. Tocada pelo amor e pelo novo mundo que a acolhia, Fátima aceitou converter-se ao cristianismo, tomando o nome de Oureana.
A história menciona que o lugar onde viveram passou a chamar-se Fátima, em memória da princesa moura, e que a vila onde se fixaram recebeu o nome de Ourém, em homenagem ao novo nome da convertida.
Assim, na origem destas terras portuguesas, entre a fé e o amor, sobrevive o eco de dois mundos que se encontraram, o Islão e o Cristianismo, unidos pela lenda da mulher que foi, ao mesmo tempo, Fátima e Oureana.
OS TRÊS PASTORINHOS E AS APARIÇÕES DE FÁTIMA
Em plena Primeira Guerra Mundial, quando o mundo mergulhava em incertezas e dor, um pequeno lugar no coração de Portugal tornou-se o centro de uma das histórias espirituais mais marcantes do século XX.
Em 1917, na Cova da Iria, aldeia de Fátima, três humildes crianças pastoreavam ovelhas: Lúcia dos Santos, de 10 anos, e os seus primos Francisco e Jacinta Marto, de 9 e 7 anos.
As crianças tornaram-se símbolos de pureza e fé inabalável. Francisco e Jacinta morreram pouco depois, vítimas da gripe espanhola, e foram canonizados em 2017. Lúcia viveu até 2005, como freira carmelita, dedicando toda a vida à mensagem de Fátima.
O INÍCIO DAS APARIÇÕES
No dia 13 de maio de 1917, ao meio-dia, as crianças afirmaram ter visto uma “Senhora mais brilhante que o sol”, envolta numa luz intensa. A figura revelou-se como Maria (Maryam A.S.), a mãe de Jesus (Isa A.S.), e pediu-lhes que voltassem ao mesmo local no dia 13 de cada mês, durante seis meses consecutivos.
A mensagem que transmitiu foi simples, mas poderosa: oração, arrependimento e paz. Pedia que rezassem o Rosário todos os dias, para alcançar o fim da guerra e a conversão dos corações.
AS TRÊS MENSAGENS DE FÁTIMA
Ao longo das aparições, a Senhora partilhou com as crianças três segredos, conhecidos mais tarde como "os três segredos de Fátima":
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A VISÃO DO INFERNO, como um apelo urgente à conversão e oração.
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A PROFECIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL e o pedido de consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria.
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A VISÃO DO SOFRIMENTO DA IGREJA E DO “BISPO VESTIDO DE BRANCO”, interpretada como uma profecia sobre perseguições e martírios.
POR QUE É QUE MARYAM (A.S.) É CHAMADA “NOSSA SENHORA DE FÁTIMA”?
Antes das aparições, o local já se chamava Fátima. O nome remonta ao período em que a Península Ibérica estava sob domínio muçulmano (Al-Andalus).
Em 13 de maio de 1917, três crianças, Lúcia, Francisco e Jacinta, afirmaram ver uma “Senhora mais brilhante que o sol” na Cova da Iria.
A Senhora apresentou-se como Maria, mãe de Jesus (Maryam A.S.), e pediu oração, penitência e conversão.
A Igreja Católica reconheceu o fenómeno como uma manifestação mariana, e Maryam (A.S.) passou a ser venerada sob o título de Nossa Senhora de Fátima, não por o nome estar ligado a Maryam (A.S.), mas porque as aparições aconteceram no lugar chamado Fátima.
O título “Nossa Senhora de Fátima” é, portanto, um reflexo da história portuguesa: um entrelaçar de culturas, de fé e identidade, onde o passado islâmico e a devoção cristã se encontram sob o mesmo nome.
Assim, cada vez que alguém pronuncia “Nossa Senhora de Fátima”, repete, talvez sem saber, um eco antigo de Al-Andalus, e reafirma a ligação espiritual entre dois povos e duas tradições que marcaram profundamente a alma de Portugal.
FONTES:
DICIONÁRIO:
- A.S - ʿalayhi as-salām, expressão dita após mencionar um profeta ou mensageiro, que significa “Que a paz esteja sobre ele”
- S.A.W - Sallallāhu ‘alayhi wa sallam, expressão dita após mencionar o Profeta Muhammad, que significa “Que Allah o abençoe e lhe conceda paz”
- R.A - significa "Raḍiya Allāhu ‘anha", ou seja, "Que Allah esteja satisfeito com ele"
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